Não sei se me recordo mais. Aliás, eu me recordo de vez em quando, às vezes, parece que era tão pior e, em outras, tão melhor. Tem hora que bate uma verdadeira aflição: Eu nunca mais serei uma mulher sem filhos. Preciso planejar quem fica com meu bebê se preciso sair por longas horas. Preciso de apoio mesmo se eu quiser cortar o meu cabelo. Não dá mais para sair sem se planejar. Isso vem como um soco no estômago: A vida mudou.
Não sei como serão os dias que se aproximam, não sei como será deixar o bebê na creche ou aos cuidados de alguém que não sou eu quando tiver que retornar ao trabalho, não sei como será ir beber com as amigas e meu marido ter que ficar com o bebê, e se algum dia vou poder viajar a dois, argh, não dá mais para fazer as coisas de supetão, a partir deste ano sempre tudo haverá de ser planejado… não sei como será o futuro!
Hoje, só sei que tudo mudou. O que eu pensava saber, descobri que eu não sabia. Descobri que tudo mudou. Principalmente dentro de mim. Eu olho para o meu filho com um amor que vem do ventre. Transborda e invade todo o meu corpo. O que é esse sentimento tão denso? Não sei explicar.
Tem horas que ainda não sou capaz de me reconhecer. Quem era a Dani antes de hoje? Quem será a Dani a partir de agora? Minhas roupas não me cabem. Meu corpo parece outra coisa que não sei nem ao menos dizer. A maternidade me mudou de uma forma que não estou conseguindo nem ao menos expressar.
Eu estou puxando de dentro de mim uma sabedoria milenar que vem das células mais ocultas do meu ser. Não sabia limpar uma fralda, agora sei. Não sabia banhar uma criança, agora eu sei. Não sabia ninar, agora sei. Nunca havia vestido um bebê e não fazia a mínima ideia de como amamentar, só que agora reconheço até se o choro é fome ou cólica.
Todo meu conhecimento do que era ser mãe era o que vi na TV, li nos livros, assisti no cinema… e não é nada parecido, muito menos igual.
A maternagem é complexa. É o cuidar, alimentar, zelar, acariciar, brincar, ninar… é além da maternidade, do laço de mãe e filho. A maternagem são as atitudes diárias que envolvem o cuidar de uma criança. Essa rotina é o que nos muda. Não é apenas se tornar mãe. É vivenciar a maternidade ao extremo.
Hoje, sou alguém diferente que está se redescobrindo dia após dia. Eu me sinto fraca e forte ao mesmo tempo. Quando olho para meu bebê, sinto que sou uma leoa capaz de defendê-lo a qualquer adversidade. Mas, me sinto impotente quando ele chora e nada do que eu faço parece contê-lo.
O amor que sinto por esse pequeno ser é algo que não se nomeia, não se explica e nem ao menos se desenha. É sutil como um maremoto sobre uma pequena ilha. É um tufão que arrasa e me faz questionar se estou aceitando ou errado a cada segundo. Sinto o cheiro do meu bebê impregnado na minha narina. Sinto seu calor transpor no meu corpo quando está sobre meu colo.
Meus dias são coloridos, divertidos e calorosos. Mas, também são borrados, confusos e impetuosos. A maternidade questiona a nossa sanidade. Faz a gente duvidar sobre as nossas escolhas. Ao mesmo tempo que acalenta nossas dores e aflições ao encarar um rostinho tão pequeno.
Simplesmente eu sei que não sou mais quem eu era. Após se tornar Mãe não existe volta. Não se dá marcha ré. Você sabe que mesmo na neblina, precisa seguir em frente.