Tem uma fase na vida, que seus primos, amigos e conhecidos começam a ter filhos. Acho que muda de geração para geração. Na época da minha avó, era lá pelos 16/18 anos, da minha mãe na faixa dos 20 anos e na minha época na fase dos 30 anos. É meio impressionante, quase como uma bola de neve que vai caindo a montanha e aumentando de tamanho, uma pessoa engravida, depois outra e quando você vê as festas de família estão cheias de criança.
Principalmente, quando a sua família é muito grande e se você for filho de pais separados, é ainda maior. Claro que quando cada um vai formando a própria família, fica mais difícil se reunir, mas quando todos se encontram nos deparamos com uma quantidade de gente duplicada, triplicada nas casas e espremidos nos apartamentos.
A casa com criança é uma loucura. Tem choro, gritaria, criança correndo e hoje em dia tem até cachorrinho latindo. Os animais dominam também as salas de estar. Nesse fervor do momento, de vez em quando, eu me vejo pensando sobre o meu passado. Tem dias que a saudade da infância bate forte.
Não tenho do que reclamar. Eu amava do fundo da minha alma de ser criança. Amava brincar, correr e fazer bagunça. Lembro de brincar de pega-pega e esconde-esconde. Quando menina, ia para praia e brincava na rua, o que nem sempre dava para fazer nas ruas de trânsito de São Paulo. A criançada brincava até anoitecer e só entrava para janta. Muitas vezes, os pais colocavam cadeiras de praia na calçada enquanto a gente brincava de pega-pega no asfalto porque em dia de baixa temporada mal passava carros por lá.
Lembro da noite quente, estrelada, de meus primos e amigos de rua com quase a mesma idade correndo. Lembro que invadíamos terrenos baldios para pegar mamona, a plantinha mesmo, sabe? Um dia, o finado vizinho Seu Osvaldo começou a berrar para gente sair de lá. Lembro que ele amava estourar a bola que o pessoal derrubava no quintal dele. Era um pouco mal-humorado. Mas, era divertido. Era tipo filme de criança que tem um velho rabugento inimigo, sabe? Bem desse tipo.
Também entravámos numa casa abandonada que ficava na esquina da rua. Lá era um horror de bagunça porque os últimos moradores eram pessoas problemáticas. Era cheio de tábuas e tinha uma sujeira sem fim no banheiro, mas pensávamos, somos exploradores. A gente tocava a campainha e saia correndo que nem malucos. Depois levávamos bronca por fazer isso.
Colocamos fogo num papel que queimou a mesa da minha tia. Ficamos de castigo. A gente gostava de brincar de bexiga d’água na garagem de casa. Eu também amava pensar que era meio cozinheira e fazia vitamina de gororoba no meu liquidificador da Eliana. Um dia, minha amiguinha que era vizinha até sofreu depois de comer essa vitamina horrenda de muita dor de barriga... As minhas amigas e eu fazíamos Dias do Pijama, uma dormia na casa da outra, víamos televisão até bem tarde e comíamos doces e pipocas. Era um momento único.
Ah, era tão bom! Sim, digo eu, com mais de 30 anos, parecendo que tenho 70 anos... Saudosa infância. Agora que estou esperando o meu nenê e vendo sobrinhos e pequenos primos crescerem, bate mesmo essa saudade porque a gente lembra como era tudo tão simples, inocente e descomplicado.
Em que momento a vida se tornou tão sem graça, estressante e que sempre precisamos pisar em ovos com medo de algo que pode dar errado?
Quero muito ler sobre a sua infância também!